Na pré-história, o homem via a arquitetura como uma forma de abrigo contra as más condições do clima e proteção contra os predadores. Os egípcios a usavam como forma de mostrar sua grandiosidade. Já os gregos, a consideravam como uma forma de honrar os deuses.
Independente do tempo e da motivação, o que havia em comum nos primórdios da arquitetura era o uso de materiais disponíveis no local, o aproveitamento do sol para aquecimento, da chuva para coleta de água e do vento para o resfriamento.
Todavia, com o passar dos séculos, a tecnologia construtiva mudou muito, de forma que todos os problemas enfrentados pelos nossos antepassados na hora de projetar pudessem ser resolvidos com sistemas de aquecimento, de resfriamento e de abastecimento.
O advento do ar condicionado fez com que os arquitetos não precisassem mais estudar o clima para projetar. A falta de conforto, seja por calor, seja por frio, podia ser resolvida com o ajuste de um termostato.
Com os altos consumos de energia verificados atualmente, nas últimas décadas foi criado e incentivado o uso de métodos que visam melhorar o desempenho do ambiente construído, tanto em espaços externos quanto internos.
A meta agora é criar edifícios buscando melhorar o desempenho ambiental com meios passivos, de ventilação e iluminação, por exemplo e reduzir o consumo de energia, principalmente em se tratando de condicionadores de ar.
Não se trata de abolir o uso, mas, usar com racionalidade, sem restringir os ocupantes do conforto que as edificações modernas possam lhes proporcionar. Este é o incentivo que começou após a segunda metade do século passado e tende a continuar anos à frente.
O que é Arquitetura Bioclimática?
Assim surge o conceito de Arquitetura Bioclimática. E ela nada mais é do que a essência da arquitetura, que é planejar as edificações aproveitando de forma mais eficaz as características ambientais do entorno, como insolação, vegetação e ventilação, e aliando os benefícios tecnológicos.
Por exemplo, regiões quentes, frias, úmidas, secas, costeiras ou montanhosas, precisam de técnicas diferenciadas que garantam conforto e economia de energia e de água.
Como funciona a arquitetura bioclimática
Tudo começa com o estudo do local. O arquiteto deve ter informações suficientes para projetar cada cômodo de uma edificação, considerando o clima e o entorno.
Além disso, ter em mente qual o uso da edificação também é de extrema importância, pois um edifício comercial, que é ocupado na parte do dia deve ter uma determinada insolação (ou proteção contra ela) diferente de uma residência que será ocupada, na grande parte das vezes, durante a noite.
Desta forma, pensar nas instalações considerando esses fatores impacta diretamente na eficiência da construção depois de pronta.
Redução no consumo de energia
Muitas são as vantagens de projetar considerando as características da arquitetura bioclimática, já que o aproveitamento dos recursos disponíveis no local, reduz os custos com transporte de materiais, por exemplo.
Mas a grande redução no fim, aparece no consumo de energia pois essas edificações demandam menos uso de energia para aquecimento e/ou resfriamento.
Mas como conseguir isso?
Aplicando alguns princípios básicos tendo sempre o conhecimento do local onde a edificação será construída. Podemos citar algumas aplicações, como:
1. Iluminação natural
O uso da luz natural diminui a necessidade de iluminação artificial. Consequentemente, diminui as temperaturas, se considerarmos o fato de que a luz artificial é convertida em calor. Além disso, quanto mais iluminação externa, menor a necessidade de se usar as lâmpadas no período do dia.
2. Aquecimento natural
Além da energia solar, com o sol é possível implementar um sistema de aquecimento de água. Com ele você terá água quente nos chuveiros ou torneiras, através de energia gratuita, que não prejudica o meio ambiente e não será necessário usar o chuveiro elétrico (grande vilão da conta de energia).
Também, em regiões muito frias, ter sistemas de aquecimento natural, evita o uso dos aquecedores elétricos. Pode-se por exemplo, criar aberturas para que o sol aqueça os ambientes de maior permanência.
3. Isolamento térmico
Utilizando materiais isolantes adequados é possível conservar a temperatura do interior por mais tempo.
Um exemplo de aplicação é o telhado verde que melhora o isolamento térmico da edificação, protegendo das altas temperatura no verão e ajudando a manter a temperatura interna no inverno.
Não devemos nos esquecer da qualidade das esquadrias. Utilizar janelas de boa qualidade que vedem de forma correta, evita a perda de calor e a entrada de frio.
4. Resfriamento natural dos ambientes
Aproveitar a ventilação é outro fator importante, pois promove a renovação do ar, refresca o local e ajuda a manter os ambientes saudáveis. Portanto, sabendo-se a direção do vento, substitui-se o ar interno mais quente pelo ar fresco de fora.
Esta prática reduz a frequência da utilização do ar condicionado.
5. Uso de vidros de alto desempenho
Queremos iluminar os ambientes, mas sem sobre aquecê-los. Isso é possível utilizando vidros de alto desempenho existentes no mercado.
A combinação entre os percentuais de radiação transmitida, refletida e absorvida definem o desempenho foto-energético do vidro. O bom desempenho é o balanço desejável entre a transmissão de luz direta e o bloqueio máximo de calor.
6. Aproveitamento do paisagismo
A vegetação é uma excelente aliada na arquitetura. Ela pode servir de barreira de vento, fazer o papel de brise em fachadas onde há muita incidência solar ou ainda sombrear áreas muito quentes, mantendo a temperatura interna adequada. Isso reduz a necessidade do uso do ar condicionado.
7. Brises
Brises são proteções utilizadas nas aberturas contra a radiação solar direta. Existem diversos modelos no mercado, alguns com movimentação para acompanhar o trajeto do sol. Podem ser de diversos materiais e são aliados na arquitetura bioclimática.
8. Instalação de sistemas fotovoltaicos mais bem dimensionados
A aplicação dos conhecimentos dispostos acima, reduz a demanda de energia elétrica e consequentemente faz com que o dimensionamento das plantas solares sejam menor, trazendo economia para implantação o sistema.
Depois de todas essas informações, que tal pensar em sua casa? Seria possível melhorar ou implantar alguma diretriz bioclimática em sua residência para ajudar na conta de energia?